A juíza Anna Paula Gomes de Freitas manteve a prisão preventiva de Hidelerson Fialho Martins Barbosa, acusado de ter participado do assassinato do advogado Roberto Zampieri, executado a tiros em dezembro de 2023. Veterano do Exército e instrutor de tiros, Hidelerson prestou depoimento complementar, nesta terça-feira (10), na ação penal que apura a morte do jurista, ocasião em que requereu, por questões humanitárias, a substituição da prisão por medidas cautelares, mas a juíza negou.
Pegando carona no pedido da defesa de Hedilerson, a advogada do coronel Etevaldo Caçadini, acusado de ser um dos mandantes do crime, também requereu a substituição da prisão. Porém, em decisão proferida ainda nesta terça, pela manhã, a magistrada já havia negado a substituição da prisão ou a transferência de Caçadini.
Apesar dos esforços defensivos, a magistrada anotou que, desde a última ordem que manteve a prisão de Hedilerson, Caçadini e Antônio Gomes da Silva, o executor, proferida em agosto, não houve alterações no quatro processual aptas a mudar o entendimento sobre o cárcere do trio.
Com o término do depoimento complementar, a juíza deu 15 dias para que a defesa dos réus apresente os memoriais finais, fase que antecede a prolação da sentença de pronúncia, a qual deverá submeter os envolvidos na morte de Zampieri ao Tribunal do Júri.
Novo depoimento
A sessão começou às 16h e Hedilerson respondeu apenas as perguntas da defesa, sem ser interpelado pelo Ministério Público ou pela juíza da 12ª Vara Criminal de Cuiabá, Anna Paula Gomes de Freitas.
Respondendo os advogados, o veterano do Exército e instrutor de tiro, disse que veio para Cuiabá apenas para uma competição. Afirmou ainda que contratou o primeiro advogado, Alessandro Pincher, por ajuda do coronel do Exército e também preso pelo envolvimento no crime, Etevaldo Caçadini.
Em janeiro, Alessandro informou à reportagem que dois clientes, presos por suposto envolvimento na morte do advogado Roberto Zampieri, foram “assediados” por um escritório do Estado.
Alessandro patrocinava a defesa do coronel do Exército Brasileiro (EB) Etevaldo Luiz Caçadini de Vargas, suspeito de ter feito financiado a morte de Zampieri, e Hedilerson Fialho Martins Barbosa, apontado pela Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) como o homem suspeito de ter “contratado” Antônio Gomes da Silva para executar a vítima.
Quando chegou à Capital mato-grossense, Alessandro foi informado por Barbosa que preferia um advogado de Cuiabá, assim como Caçadini, que, inclusive, foi citado por ele no depoimento como sendo “um pai”.
Em prantos, provavelmente arrependido, Hedilerson contou aos participantes da audiência que perdeu sua mãe nesta segunda-feira (9). Depois disso, por “questão humanitária”, seus advogados pediram a revogação da preventiva, ou a substituição por domiciliar.
“Rainha do HC”, a advogada Sarah Quinetti pediu carona no pedido revogatório e pleiteou o mesmo para Etevaldo Caçadini, o qual teve pedido de transferência para Minas Gerais negado nesta terça pela magistrada, sendo mantido no 44º Batalhão de Cuiabá. O promotor Jorge Damante, representante ministerial, foi contrário aos requerimentos.
Em meados de agosto, os advogados Neyman Augusto Monteiro e Nilton Ribeiro de Souza, que representam Hidelerson, solicitaram à 12ª Vara Criminal de Cuiabá autorização para que ele prestasse depoimento complementar, ante a juntada do relatório Técnico de extração do celular de Caçadini.
O pedido foi feito após o depoimento do delegado Nilson Farias, da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), que mencionou a existência de provas relacionadas ao cliente em outro inquérito policial (IP). A defesa argumentou que deveria ter acesso a essas provas antes do prosseguimento da audiência.
O relatório em questão contém dados que, supostamente, indicam a participação de Hedilerson no crime. Entre os documentos, há também uma imagem de passagem aérea que evidencia a presença do acusado em Cuiabá no período em que os envolvidos tramaram o assassinato.
Os advogados destacam que o direito à autodefesa foi prejudicado, e, por isso, solicitam que o acusado seja ouvido novamente antes da apresentação das alegações finais.
Embora Neyman e Nilton tenham argumentado que o novo depoimento deveria ocorrer ante a anexação de novos documentos ao processo, os quais a defesa não teria tido acesso amplo e irrestrito, os promotores anotaram que, na verdade, o relatório já estava disponível à todas as partes do processo desde o início de julho.
Com base no posicionamento ministerial, a juíza ainda deu um “puxão de orelha” nos advogados, mas concedeu o pleito, designando nova audiência para ouvir Hidelerson para o dia 10 de setembro, às 16h.
“Com efeito, como bem observou o Ministério Público em sua manifestação, os Advogados do réu Hedilerson tiveram acesso ao mencionado relatório, desde que no mencionado feito se habilitaram, ou seja, bem antes da audiência de instrução realizada nesta ação penal, de maneira que inequivocamente tinham conhecimento do relatório por ocasião do interrogatório do réu Hedilerson, contudo, o aparente descuido da defesa, ao não fazer as perguntas pertinentes a respeito do que entende que tal documento atinja seu cliente, embora na ocasião tivesse conhecimento a respeito dele, não pode prejudicar o réu em seu sagrado direito à ampla defesa, razão pela qual o pleito deve ser deferido”, decidiu.
Zampieri foi assassinado no dia 5 de dezembro de 2023, com pelo menos dez tiros, disparados por Antônio Gomes da Silva, o qual foi contratado por Caçadini a mando do produtor rural Aníbal Laurindo (que está sendo monitorado por tornozeleira). Hedilerson seria o responsável por estabelecer a ligação entre Antônio e os mandantes.(Pedro Coutinho/Luis Vinícius – Olhar Direto)