Produtores de feijão em Mato Grosso estudam a possibilidade de adotar um vazio sanitário para a cultura. O intuito é controlar a infestação de mosca branca infectada com a doença do mosaico dourado nos feijoeiros das principais regiões produtoras do estado.
A medida fitossanitária é já adotada em Goiás, Minas Gerais e no Distrito Federal, estados considerados fortes na produção do alimento.
De acordo com o setor produtivo, os insetos contaminados estão se beneficiando da chamada “ponte verde”, decorrente do plantio sequencial da cultura, causando perdas expressivas de produtividade e aumento significativo nos custos com defensivos em muitas fazendas. Cenário que pode colocar em risco a viabilidade econômica do cultivo de feijão em Mato Grosso.
Consultor agronômico, Rubens de Oliveira Dias atende diversas propriedades na região de Sorriso. Segundo ele, muitas lavouras de feijão no município foram contaminadas pela doença do mosaico dourado transmitida pela mosca branca.
Em uma delas, visitada pela reportagem desta semana, ele conta que a expectativa era colher entre 50 e 60 sacas de feijão por hectare. Contudo, talvez a produtividade, por conta da doença, varie entre dez e 20 sacas.
“A planta vegetou, só que não produziu frutos. O produtor resolveu dissecar e matar a cultura. O feijão que vai sair daqui vai ser um feijão de qualidade muito ruim. Essa virose, além de baixar a produtividade, danifica os grãos”, salienta Rubens.
Ainda conforme o consultor agronômico, “o produtor está salvando grãos para fazer sementes durante a safra no pivô e coloca essa cultura antes do pivô, onde a mosca aumento, prolifera o mosaico, a virose e depois começa a migrar para a área irrigada”.
Rubens frisa também ao Patrulheiro Agro, do Canal Rural Mato Grosso, que o produtor está realizando baterias de aplicações, contudo, em decorrência a alta infestação não se consegue controlar a situação.
Aprosoja-MT fez alerta sobre a mosca branca
O presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), Lucas Costa Beber, pontua que a entidade alertou sobre o aumento da presença da mosca branca quando da mudança do calendário do vazio sanitário da soja, principalmente por se estar em um ano de El Niño, que é um ano seco e corrobora para a incidência do inseto.
“O feijão é um alimento muito importante, porque vai direto ao prato do brasileiro, ou seja, a tendência é subir o custo benefício para o consumidor final, além de deixar o produtor, que produz e arrisca, no prejuízo. Ainda mais em anos de custos altos de insumos para a produção de feijão”.
Vazio sanitário do feijão para controle
Segundo o presidente da Associação dos Produtores de Feijão, Pulses, Grãos Especiais e Irrigantes de Mato Grosso (Aprofir-MT), Hugo Garcia, a contaminação é muito forte.
“Está muito forte a quantidade de mosca branca na região e os produtores não estão tendo eficiência. Então, temos percebido que a gente vai ter que colocar na mesa, sentar com o Indea, com o governo do estado. Sentar com as outras associações, Aprosoja, Famato, a Ampa. Todo mundo. Sentar para a gente tentar discutir e chegar em um bom senso juntos com os agricultores, talvez para a criação de um vazio sanitário no feijão, porque se a gente continuar desse jeito, a nossa cultura de feijão no estado de Mato Grosso vai se inviabilizar. Não tem cura para essa doença”.
Em entrevista ao Canal Rural Mato Grosso, o diretor técnico do Instituto de Defesa Agropecuária de Mato Grosso (Indea-MT), Renan Tomazele, frisa que “o instituto de defesa está de portas abertas, está pronto para poder compartilhar junto ao setor produtivo essa preocupação e para avaliar uma medida que seja resolutiva para questão de proliferação de mosca branca e, consequentemente, diminuir essa incidência da doença do mosaico”.
Para instauração de um vazio sanitário para o feijão, assim como já é praticado em Goiás, Minas Gerais e no Distrito Federal, segundo o diretor técnico do Indea-MT, “primeiro temos que fazer a mensuração se está no Brasil inteiro o problema, como está essa realidade. Se está acontecendo no Brasil, então é importante fazer essa conversa todo mundo e tecnicamente junto com a pesquisa, com o produtor e conosco do núcleo de defesa”.
Sementes de feijão disponíveis preocupa
Outra preocupação do setor é com o baixo percentual de sementes com origem disponível para a cultura no mercado brasileiro. O que, de acordo com a Aprofir-MT, acaba favorecendo para o aumento de doenças no feijão.
O diretor-executivo da Aprofir-MT, Afrânio Cesar Migliari, comenta que hoje o percentual de sementes com origem disponível representa entre 10% e 15% das sementes utilizadas.
“Os outros 85%, 90% vem através da produção de grãos. [É] gravíssimo. Porque você leva tudo o que é de ruim naquele grão que já vem produzindo há vários anos. Vai remontando, vamos dizer assim. E, ele vai trazendo as doenças, entre elas os fungos de solo, mosaico, fusariose, o mofo branco. Como o feijão vai ficando mais fraco, ele vai ficando mais suscetível. Quando entra uma doença mais forte, como o mosaico dourado, arrebenta ele”.
Afrânio frisa ainda que “ou a gente começa a se organizar e ter a produção de sementes em locais apropriados, responsabilizados, pesquisas com empresas credenciadas, mostrar para o produtor que é bem mais viável e interessante para ele usar as sementes e não o grão ou a gente continua como está isso aí hoje no mercado. Não só em Mato Grosso, vale a pena dizer que é no Brasil inteiro”.
Canal Rural/Pedro Silvestre/Viviane Petroli – Foto: © Valter Campanato/Agência Brasil